Uma rápida leitura das mais importantes revistas nacionais de management e de gestão de pessoas, indica que definitivamente estamos na era da busca e retenção de talentos. Já existem autores e profissionais de RH que não mais se referem a pessoas, capital humano, ou qualquer outra expressão, mas sim aos Talentos (alguns deles com letra maiúscula).
Consideram, aqueles que escrevem ou vendem o assunto, que esta busca se justifica pela necessidade indispensável e imprescindível de alta performance nas empresas hoje e que os talentos podem, de alguma forma, entregá-la.
De olho nesta questão, algumas reflexões podem ajudar a pensar mais profundamente no assunto.
O que é um talento afinal?
Se a tentação diante destas perguntas é responder com a conhecida alternativa “todas as anteriores”, então não se está buscando um talento, mas sim um super-homem ou uma super-mulher. De qualquer forma, parece claro que, para encontrar e reter um talento é necessário algum tipo de definição prévia de quem se está buscando. O que pode significar que o que é talento para um, pode não ser para outro. Portanto, os talentos talvez não sejam tão escassos assim, pois tudo pode ser uma questão de definição.
Parece também, que existe pouco espaço para os medianos, aqueles bons cidadãos corporativos, que carregam diariamente o piano, que mantém a performance dentro do esperado, pois se algumas das perguntas acima servem para indicar um talento, elas não contemplam este profissional. Quer dizer então, que as empresas desejam construir um quadro de colaboradores (como preferem outros) só com talentos. Será isto possível?
Por outro lado, considerando que o talento foi encontrado e contratado, outras tantas reflexões podem surgir.
A maior parte destas questões leva em consideração que a performance excelente não depende exclusivamente do “artista”, mas também da contribuição do cenário onde ele deverá atuar. O talento influencia o cenário/ambiente e é influenciado por ele. Isto vale também para os ditos “normais”, pois um esforço em produzir melhorias nas condições onde uma performance deve acontecer, facilita o aparecimento do bom desempenho de um número maior de profissionais não tão talentosos. Um cenário interno favorável (cultura organizacional, clima, trabalho em equipe, tipo de supervisão recebida…) ajuda muito, talvez até favoreça o aparecimento de talentos.
Não se deve concluir, a partir destas reflexões, que talentos não existem, que talentos não são necessários, ou que eles são iguais a todos os outros profissionais. Mas uma conclusão possível é que para atrair, reter e desenvolver talentos é preciso antes de tudo saber o que é necessário para a empresa. Alem disto, ao dividir com eles o peso da responsabilidade de gerar resultados excelentes, também comprometer-se em possibilitar as condições mínimas para isto acontecer e as contrapartidas esperadas por eles.
Outra conclusão nos direciona para a chamada 3ª via, porque não desenvolver verdadeiramente aqueles que já estão na empresa com vistas a torná-los os verdadeiros talentos: alta performance + alto engajamento = resultados melhores.
Se não for desta forma, uma última conclusão possível é que talentos podem estar sendo os depositários de uma esperança organizacional que a gestão não está conseguindo realizar na prática. Só falta acrescentar na descrição de função deles a competência de mágico.
LUIS FELIPE CORTONI
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