Gestão de equipes no futebol pentacampeão brasileiro

Todas as vezes que nossa seleção de futebol entra em campo, vivemos um clima de debate, de discussão e de aprendizagem nacional. Experimentamos os sentimentos mais diversos, ao vermos nossos craques, técnicos e cartolas tentando se organizar para vencer uma partida, um campeonato. A maior parte de nós procura entender, justificar, criticar, enfim, opinar sobre a melhor maneira de garantir a nossa posição de destaque mundial nesse esporte. Na verdade, parece que vivemos um paradoxo, pois, apesar de estarmos sempre em boas psições no ranking das seleções, deixamos muito a desejar em relação aos aspectos de gestão do futebol, e dos times em particular.

Como isso é possível? Talvez, uma contribuição de outras áreas do conhecimento pudesse nos ajudar.

Por exemplo, do ponto de vista da formação, do funcionamento e do gerenciamento de equipes de futebol, nossas convicções e práticas ainda deixam muito a desejar.

A primeira delas é óbvia: não sabemos o que é uma equipe, ou pelo menos temos uma compreensão um pouco equivocada do que é, e como funciona uma equipe. Se não, vejamos:

-       ainda cremos que a soma de excelentes talentos individuais é uma equipe; esses mesmos talentos deverão nos safar das dificuldades a partir de um gesto de genialidade e heroísmo, ou seja, na hora H  eles devem salvar a equipe . E se não estiverem nos seus melhores dias?!;

-       demoramos em reconhecer uma característica fundamental que só as verdadeiras equipes possuem: a sinergia, ou seja, a capacidade da equipe produzir um resultado melhor do que o melhor resultado que um integrante possa conseguir individualmente;

-       descobrimos tarde que relações interpessoais mal resolvidas, vaidades exageradas, ausência de conforto psicológico, clima de disputas dentro de uma equipe podem levar a rachas internos e a desastres em campo;

-       acreditamos em mitos como: em equipe que está ganhando não se mexe, conflitos internos são malignos e não devem fazem parte do cotidiano da equipe, as equipes de trabalho são como uma família, o confinamento de adultos leva à sua integração, a integração no lazer promove a integração no trabalho etc., crenças que em outras áreas onde as equipes também funcionam já foram, há muito tempo, “para escanteio”;

-       o investimento no conteúdo (capacitação técnica, conhecimento de ferramentas de trabalho etc.) é muito maior do que o investimento no processo de trabalho das equipes (administração interna de conflitos, ajustes interpessoais, modos de atuação estratégicos e táticos etc.), comprovando que talvez não conhecemos ou não damos a devida importância a esta variável imprescindível do desempenho das equipes: seu processo de trabalho, sua forma de obter resultados;

-       nossa concepção de liderança externa (no caso o técnico) e interna (o capitão) também precisa ser revista, pois a força que depositamos na função e no desempenho do líder interno mostra que sua atuação deve superar a da própria equipe que ele lidera, ou seja, novamente a crença de que um, e somente um indivíduo, deve dar vida a uma equipe que dentro do campo mostra que não funciona bem;

-       com o líder externo parece que as coisas são semelhantes: acreditamos na sua soberania em determinar e decidir o que é melhor para a equipe, pois ele detém os requisitos que consideramos fundamentais para exercer essa posição: experiência e conhecimento técnico;

-       ainda em relação ao líder externo, parece que para nós ele deve ser uma autoridade – e não um coach como dizem os franceses – recaindo sobre seus ombros o peso da derrota, ou os louros da vitória que ele divide com a equipe por uma questão de estilo pessoal.

Enfim, a capacidade e o talento individuais dos nossos atletas em jogar bola são inegáveis (por que afinal só se fala nos Ronaldos?) e os resultados também. No entanto, poderiam ser muito melhores (quem consegue esquecer 1998?) se o futebol se espelhasse em outras áreas de trabalho, onde essas questões acima já foram aprendidas, e nos brindasse com um pouco mais de competência na gestão de pessoas e de equipes. Dito de outra forma, gerentes de empresas e líderes em organizações, por exemplo, é que poderiam fazer palestras aos técnicos de futebol para dividir suas experiências, e não ao contrário como tem frequentemente acontecido.

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